terça-feira, 5 de maio de 2009

Contra el Cristal ...

Miguel Ríos
Contra el Cristal / No Sabes Como Sufrí

Hispavox H-484
1969
Single

1. Contra el Cristal (Juan Pardo)
2. No Sabes Como Sufrí (María D. Ostiz)

Miguel Ríos: voz
Waldo de los Ríos: arranjos, direcção de orquestra

De certa forma, Miguel Ríos está para Espanha assim como José Cid está para Portugal: cada um é, no seu país, a figura tutelar do rock nacional. No entanto, há óbvias diferenças entre ambos, e uma delas é o facto de, apesar de Ríos ser dois anos mais novo que Cid (nasceu em 1944), ter começado a gravar logo em 1962, com o nome artístico de Mike Ríos (Cid só chegaria aos discos em 1967, com o Quarteto 1111). Em 1969, ano deste single, Miguel Ríos estava já marcado pelo espírito psicadélico que orientaria parte da sua carreira (e que esteve depois na origem de três excelentes álbuns de rock progressivo, na década de 1970, o último deles, "Al Andalus", ricamente imbuído de toques árabes), e estava à beira de gravar o "Hino da Alegria", de Beethoven, que se transformaria num sucesso dentro e fora de portas. "Contra el Cristal" é um belo tema de Juan Pardo, ex-Brincos e ex-Juan & Junior, e que mostra bem a garra de Ríos. No lado B surge um tema mais contemplativo, da autoria da cantautora María Ostiz e gravado originalmente por esta em 1967.

sábado, 25 de abril de 2009

Nossas Canções/1

Nuno Filipe
Nossas Canções/1

Sonoplay SON 100.001
1969
EP

1. Cantiga da Manhã (Maria Teresa Horta / Nuno Filipe)
2. Canção à Maneira de Saudade, Conforme Poema de El-Rei D. Diniz (Maria Teresa Horta / Nuno Filipe)
3. Roteiro de Lisboa (Maria Teresa Horta / Nuno Filipe)
4. As Barcas (Maria Teresa Horta / Nuno Filipe)

Nuno Filipe: voz
Maria Teresa Horta: voz
Conjunto Universitário Álamos: acompanhamento
Rui Ressurreição: arranjos, direcção

Terceiro disco de Nuno Filipe, este é um trabalho notável dentro do rock português (com aproximações ao psicadelismo e prenunciando já algum hard rock, em "As Barcas") da década de 1960 pela destreza e talento com que combinou excelentes poemas de Maria Teresa Horta com a música inspirada de Nuno Filipe. Na altura, gerou controvérsia a letra de "Cantiga da Manhã", mas passados 40 anos bem precisamos de lavar "os olhos com a sua lã". Ou, como se pergunta em "Canção à Maneira de Saudade, Conforme Poema de El-Rei D. Diniz": "Notícias aqui do meu país / novas daquilo que se não diz?"

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Espiral, Op. 70

Espiral, Op. 70 - Um Disco de Palavras e Música Interpretado por Ary dos Santos - Carlos Paredes - Cristina Lino Pimentel
Decca LPDX 260
1969
LP

1. a) Cantiga de Maestria (D. Dinis - Natália Correia / Carlos Paredes); b) Cantiga de Refrão (Vidal - Natália Correia / Carlos Paredes); c) Soneto (Luís de Camões / Carlos Paredes)
2. a) Sarabanda (Johann Sebastian Bach); b) Soneto (Sóror Violante do Céu)
3. a) Tema de Sonata (Wolfgang Amadeus Mozart); b) Lira (Tomás António Gonzaga)
4. a) «Maestoso» da Sonata Opus 111 (Ludwig van Beethoven); b) Soneto (Bocage)
5. a) Chopin (Robert Schumann); b) Purinha (António Nobre)
6. a) O Pequeno Pastor (Claude Debussy); b) E ao Longe, o Barco... (Camilo Pessanha)
7. a) Prelúdio (Carlos Paredes); b) Canção (António Botto)
8. Casa (David Mourão-Ferreira)
9. a) Pantomina (Carlos Paredes); b) A Senhora Maria Laranjo da Praia da Nazaré (Afonso Lopes Vieira)
10. Meu Amor, Meu Amor (José Carlos Ary dos Santos / Carlos Paredes)

José Carlos Ary dos Santos: voz
Carlos Paredes: guitarra, guitarra portuguesa
Cristina Lino Pimentel: piano

Disco projectado pela agência de publicidade Espiral, por ocasião do Natal de 1969, teve como principal protagonista José Carlos Ary dos Santos (1936-1984), que declama todos os poemas nele presentes. O objectivo era o de traçar um retrato da poesia portuguesa desde a Idade Média até à actualidade, fechando o disco precisamente com o poema "Meu Amor, Meu Amor", que Amália Rodrigues tornaria conhecido com música de Alain Oulman pouco depois. Os acompanhamentos ficaram a cargo de Carlos Paredes (1925-2004) e de Cristina Lino Pimentel (1908-2008), sendo que o primeiro destes executa excepcionalmente guitarra acústica nos poemas medievais e renascentistas agrupados na primeira faixa do disco. As faixas onde o autor de "Verdes Anos" participa foram, aliás, as únicas a serem transpostas para CD, o que aconteceu em 2003, na caixa "O Mundo Segundo Carlos Paredes - Integral 1958-1993".

segunda-feira, 23 de março de 2009

Poesia de Fernando Pessoa 1

Sinde Filipe
Poesia de Fernando Pessoa 1

Decca SLPDX 513
1969
LP

1. A Grande Esfinge do Egipto (Fernando Pessoa)
2. Ó Tocadora de Harpa (Fernando Pessoa)
3. Saudade Dada (Fernando Pessoa)
4. O Menino da Sua Mãe (Fernando Pessoa)
5. O Andaime (Fernando Pessoa)
6. Autopsicografia (Fernando Pessoa)
7. Liberdade (Fernando Pessoa)
8. O Infante (Fernando Pessoa)
9. Nevoeiro (Fernando Pessoa)
10. Mestre, São Plácidas (Ricardo Reis)
11. Vem Sentar-te Comigo, Lídia (Ricardo Reis)
12. Não Tenhas Nada nas Mãos (Ricardo Reis)
13. As Rosas Amo dos Jardins de Adónis (Ricardo Reis)
14. Ouvi Contar Que Outrora, Quando a Pérsia (Ricardo Reis)
15. Prazer, Mas Devagar (Ricardo Reis)
16. Para Ser Grande, Sê Inteiro (Ricardo Reis)
17. O Meu Olhar É Nítido Como um Girassol (Alberto Caeiro)
18. Pensar em Deus É Desobedecer a Deus (Alberto Caeiro)
19. Num Meio-Dia de Fim de Primavera (Alberto Caeiro)
20. Olá, Guardador de Rebanhos (Alberto Caeiro)
21. Aquela Senhora Tem um Piano (Alberto Caeiro)
22. Os Pastores de Vergílio Tocavam Avenas (Alberto Caeiro)
23. No Meu Prato Que Mistura de Natureza! (Alberto Caeiro)
24. Quem Me Dera Que Eu Fosse o Pó da Estrada (Alberto Caeiro)
25. O Tejo É Mais Belo Que o Rio (Alberto Caeiro)
26. Se Eu Pudesse Trincar a Terra Toda (Alberto Caeiro)
27. O Que Nós Vemos das Coisas São as Coisas (Alberto Caeiro)
28. Li Hoje Quase Duas Páginas (Alberto Caeiro)
29. Ontem à Tarde um Homem das Cidades (Alberto Caeiro)
30. O Mistério das Coisas, Onde Está Ele? (Alberto Caeiro)
31. Passou a Diligência Pela Estrada (Alberto Caeiro)
32. Se, Depois de Eu Morrer (Alberto Caeiro)

Sinde Filipe: voz
António de Macedo: sonoplastia

Este é o primeiro LP da histórica série "A Voz e o Texto", coordenada por David Mourão-Ferreira desde o início, em 1960, precisamente com um EP onde o próprio declamava alguns dos seus poemas. Aqui, junta-se um tratamento sonoro à declamação, de forma a criar determinados efeitos extra-literários, e o responsável pelo mesmo é António de Macedo (realizador de cinema, ensaísta, escritor e pai do compositor António de Sousa Dias). Até então, a única experiência no seio desta colecção com algo mais do que a voz ocorrera num EP de Norberto Barroca, em que a poesia de António Botto era acompanhada pelas guitarras de Jorge Fontes e de José Maria Nóbrega. A escolha irrepreensível dos poemas - feita por David Mourão-Ferreira - seria completada com um 2º volume, editado no ano seguinte, e que em tudo seguia os ditames deste primeiro. A série prosseguiria até 1976, sendo que a partir de 1971 abandonaria definitivamente o formato EP para se dedicar apenas ao LP.

segunda-feira, 16 de março de 2009

A Grande Dama da Canção Portuguesa

Maria de Lourdes Resende
A Grande Dama da Canção Portuguesa

Marfer MEL. 30-095-S
1969
LP

1. Não, Não e Não (Jerónimo Bragança / Nóbrega e Sousa)
2. Adufe (Arlindo de Carvalho)
3. Leiria (Silva Tavares / Belo Marques)
4. Mulher Pequenina (Belo Marques)
5. Agora Que Te Encontrei (António José / Nóbrega e Sousa)
6. Coradinhas (Folclore)
7. Beira Baixa (Folclore - arranjo: Belo Marques)
8. Dois Caminhos (Belo Marques)
9. Rosinha Moleira (Fernando Farinha / Alberto Correia)
10. Deserto (Belo Marques)
11. Entardecer (Hernâni Correia / Wolmar Silva)
12. O Amor Tem Destas Coisas (Arménio Silva)

Maria de Lourdes Resende: voz
Orquestra Marfer
José Santos Rosa: arranjos, direcção

Dona de uma das mais extensas e interessantes carreiras na área da canção ligeira, Maria de Lourdes Resende manteve-se no auge da popularidade durante praticamente vinte anos (de inícios da década de 1950 a inícios da de 1970), tendo, no entanto, continuado a cantar ainda depois do 25 de Abril de 1974. Este "A Grande Dama da Canção Portuguesa" marca um dos raros momentos em que a sua obra chega ao formato LP, através do selo espanhol Marfer. Com contrato com esta editora desde o ano anterior, a cantora tinha já gravado um EP com reportório da autoria do debutante Denis Manuel (um cantautor que nunca chegaria às edições em nome próprio, apesar de em finais desse ano de 1969 anunciar à imprensa que iria gravar um disco a partir da poesia de William Blake), mas a fórmula aqui é bem diferente e visava sem dúvida o sucesso certo. Assim, reunem-se uma série de temas já consagrados na voz de Maria de Lourdes Resende, anteriormente gravados para as casas Estoril e Valentim de Carvalho, e com as novas orquestrações de José Santos Rosa chega-se a um disco que tentava mostrar que os antigos "standards" o eram de facto. Composições como "Mulher Pequenina", "Entardecer", "Leiria", "Não, Não e Não", "Deserto" e "Adufe" (algumas delas novas) apresentam-nos a escrita de uma geração de autores que desapareceu após o 25 de Abril e que ainda hoje continua sem sucessores à altura. Por outro lado, Maria de Lourdes Resende bem que já merecia uma homenagem pública - um espectáculo televisivo, por exemplo. Podia ser que a ouvíssemos de novo cantar, passado tanto tempo - uma ideia apenas para um perpetuar da memória.

segunda-feira, 9 de março de 2009

10000 Lépés

Omega
10000 Lépés

Qualiton LPX 17400
1969
LP

1. Petróleumlámpa (Anna Adamis / Gábor Presser)
2. Gyöngyhajú Lány (Anna Adamis / Gábor Presser)
3. Tüzvihar (Anna Adamis / György Molnár)
4. Udvari Bolond Kenyere (Anna Adamis / Gábor Presser)
5. Kérgeskezü Favágok (József Laux / Gábor Presser)
6. Tékozló Fiúk (Anna Adamis / Gábor Presser)
7. 10000 Lépés (Anna Adamis / Gábor Presser)
8. Az 1958-as Boogie-Woogie Klubban (Anna Adamis / Gábor Presser)
9. Spanyolgitár Legenda (Anna Adamis / Tamas Mihály)
10. Félbeszakadt Koncert (Anna Adamis / János Kóbor)

Laszlo Benkő: teclas, trompete, vozes
János Kobor: voz
József Laux: bateria
Tamas Mihály: guitarra baixo
György Molnár: guitarra
Gábor Presser: teclas, vozes

Segundo álbum deste grupo (embora a estreia, no ano anterior, tivesse sido assinada como Omega Red Star), aqui se encontra um momento curioso de cruzamento entre o psicadelismo húngaro e o psicadelismo português por via de um festival japonês. Confusos? Com efeito, em 1970 começava no Japão o World Popular Song Festival, promovido pela Yamaha. Num ano em que Portugal optara por não participar no Festival da Eurovisão, Sérgio Borges (vencedor do Festival da Canção com "Onde Vais Rio Que Eu Canto") tem em terras orientais uma oportunidade de mostrar a canção ao mundo. No entanto, quaisquer aspirações cairam por terra logo na primeira semi-final, a 20 de Novembro de 1970, com esta a ser eliminada. Outra canção a ficar pelo caminho foi precisamente a participação da Hungria, da responsabilidade dos Omega, mas Sérgio Borges ouviu "The Girl with Pearls in Her Hair" e não ficou indiferente. Já em Portugal, grava uma versão da mesma com o Conjunto João Paulo, que, com o título encurtado para "Pearls in Her Hair", viria a ser o lado B do último disco de originais do grupo (single "Mar (Meu Pão, Casa, Pedra, Fome)", de 1972). E que versão! Toda a força da voz do cantor se mostra aqui bem patente, e os arranjos folk rock só fazem pensar no que se poderia ter ganho caso a Valentim de Carvalho tivesse apostado num LP de originais do Conjunto João Paulo nesta fase... Mas voltando aos Omega e ao seu segundo LP: ora é precisamente aqui que se encontra a versão original de "The Girl with Pearls in Her Hair, cantada em húngaro, com a designação "Gyöngyhajú Lány". Como parece querer dizer o título do álbum dos Omega ("10000 Lépés" pode traduzir-se por "10000 Passos"), um longo caminho percorreu esta canção até chegar a Portugal - mas a viagem valeu bem a pena!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Joly Braga Santos: Fifth Symphony (Virtus Lusitaniae)

Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional - Silva Pereira
Joly Braga Santos: Fifth Symphony (Virtus Lusitaniae)

Decca SLPDX 512
1969
LP

1. 1º Andamento- Preludio
2. 2º Andamento- Zavala (Scherzo)
3. 3º Andamento- Largo
4. 4º Andamento- Allegro Energico ed Appassionato

A música erudita de origem portuguesa conheceu em 1969 uma edição de vulto, com o lançamento pela casa Valentim de Carvalho da "5ª Sinfonia" de Joly Braga Santos. Obra estreada em Dezembro de 1966, no Teatro Nacional de São Carlos, com a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional dirigida pelo próprio compositor, fora distinguida dois anos depois pela Tribuna Internacional de Compositores da UNESCO. Tornou-se assim no primeiro álbum monográfico de Joly Braga Santos, então com 45 anos mas já um valor confirmado da música contemporânea portuguesa. Esta gravação, sob a direcção do maestro Silva Pereira, tem sido várias vezes reeditada, embora com a capa algo adulterada. Em todas elas, no entanto, surge o belíssimo quadro "Dantescas", da autoria de João de Mello Falcão Trigoso, avô de sua mulher. Apesar do lugar comum, não será demais chamar a atenção para o 2º andamento, onde os ritmos da percussão moçambicana enriquecem o colorido da obra, projectando-a para além de quaisquer fronteiras geográfico-políticas e afirmando o seu intrínseco valor musical.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Zip-Zip

Zip-Zip
Zip-Zip / Movieplay ZIP 2001 L
1969
LP

1. Zipfonia (Nuno Nazareth Fernandes) Orquestra Zip
2. Fonte de Água Vermelha (Hugo Maia de Loureiro) Hugo Maia de Loureiro
3. Steady (Tradicional) Intróito
4. Cantata para uma Velha Só (José Carlos Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes) Raul Solnado
5. Excerto do Concerto N.º 1 (Piotr Ilitch Tchaikovsky) Orquestra dir. António Victorino d'Almeida
6. I'll Not Marry at All (Tradicional) Efe 5
7. À Saída do Correio (António Cabral / Padre Fanhais) Padre Fanhais
8. Ixi Ami (Minha Terra) (Rui Mingas) Rui Mingas
9. Poema "Futebol" (Tóssan) Tóssan
10. Frère Souviens-Toi (José Barata Moura) José Barata Moura
11. Farrapo (José Froes Leitão) José Froes Leitão

Este disco marca o início da histórica editora Zip-Zip e tem também a particularidade de quase todas as canções nele presentes não terem sido regravadas pelos seus intérpretes. Mais ainda, este é também o único registo fonográfico do cantautor José Froes Leitão, e uma das raríssimas oportunidade de escutar o poeta Tóssan de viva voz, com um relato futebolístico em forma de poema. No caso dos grupos Efe 5 e Intróito, surgem aqui duas canções tradicionais norte-americanas, área que ambos os grupos abandonariam nas suas discografias em nome próprio mas que foram marcantes no seu percurso artístico. Raul Solnado interpreta uma canção cómica e bem conhecida da autoria da dupla Ary dos Santos / Nazareth Fernandes, "Cantata para uma Velha Só". Dos cantautores "consagrados", temos Francisco Fanhais (aqui ainda Padre) e José Barata Moura (com um tema em francês, caminho que continuaria no seu primeiro EP), e há ainda lugar para Hugo Maia de Loureiro (que em 1971 "quase" ganharia o Festival da Canção com a "Canção de Madrugar") e para o angolano Rui Mingas. Por último, António Victorino d'Almeida leva a música erudita ao "povo" e mostra que o "Concerto N.º 1", de Tchaikovsky, é afinal bem mais conhecido do que se julga. Um pedaço de história, portanto, neste ano em que se comemoram os 40 anos do programa televisivo "Zip-Zip", com três das personalidades mais carismáticas de sempre da RTP - Carlos Cruz, Fialho Gouveia e Raul Solnado - a abrirem brechas no regime e a anunciarem o 25 de Abril de 1974.

A capa e o logotipo do boneco são da autoria de Manuel Pires.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A Peça

Pop Five Music Incorporated
A Peça
Orfeu XYZ 140
1969
LP

Prelúdio:
1a. Overtüre [Pop Five Music Incorporated]
Acto I (Soft):
1b. Jesus, Alegria dos Homens (Johann Sebastian Bach - arranjo: Pop Five Music Incorporated)
2. Blackbird (John Lennon - Paul McCartney)
3. To Love Somebody (Barry Gibb - Maurice Gibb)
Acto II (Crescendo):
4. Medicated Goo (Steve Winwood)
5. Proud Mary [John Fogerty]
6. Mess Around [Ahmet Ertegun]
Acto III (Climax):
7. Hush [Joe South]
8. Fire (Jimi Hendrix)
9. Sour Milk Sea (George Harrison)
10. C'Mon Down To My Boat [Wes Farrell - Jerry Goldstein]
Finale (Histerical):
11. Can I Get a Witness [Eddie Holland - Lamont Dozier - Brian Holland]

Paulo Godinho: voz, guitarra, órgão hammond, piano, interjeições
Pi Vareta: voz, guitarra, guitarra baixo
Tozé Brito: voz, guitarra, guitarra baixo, fuzz
David Ferreira: voz, guitarra, órgão Hammond, piano, percussões
Álvaro Azevedo: bateria, percussões

Este trabalho tem várias características que o tornam um disco marcante na música nacional. Em primeiro lugar, é um dos três únicos LP's de pop rock editados por um grupo português na década de 1960 e o primeiro de uma formação não sediada em Lisboa. Depois, foi uma aposta arriscada de um editor que sempre se pautou pela diferença - Arnaldo Trindade - este acto de lançar para o mercado um álbum de pop rock nitidamente afastado das canções mais triviais, ainda para mais de um grupo que até então só tinha em carteira dois EP's (situação idêntica à da Filarmónica Fraude, aliás, que assinou contrato com a Philips numa altura em que a editora pretendia deitar cartas no pop rock nacional). De destacar, também, a ambição do grupo em conceber o álbum como se de uma peça teatral se tratasse, com as respectivas partes bem delineadas, o que também ficou presente no próprio grafismo do álbum, da responsabilidade do fotógrafo (e então piloto desportivo) João Paulo Sottomayor. Em último lugar, três dos músicos aqui presentes seguiram depois carreiras musicais de reconhecido valor e importância: Alvaro Azevedo, nos Arte & Ofício e Trabalhadores do Comércio; Paulo Godinho, como baixista em vários trabalhos marcantes da década de 1970, hoje a morar no Japão; e Tozé Brito, que passaria logo de seguida para o Quarteto 1111 e que dispensa quaisquer outras apresentações. Em termos do reportório gravado, não há aqui lugar para originais, mas as versões de temas dos Beatles, dos Bee Gees, de Jimi Hendrix, dos Traffic ou de Marvin Gaye são criativas o suficiente para quase fazer esquecer isso mesmo. Por outro lado, foi graças a esta tarimba que os Pop Five chegariam ao excelente conjunto de seis singles editados entre 1970 e 1972, construindo um reportório próprio que os colocava acima da grande maioria dos grupos nacionais e ao nível das formações britânicas de então. Em CD, a totalidade deste álbum encontra-se no duplo "Odisseia - Obra Completa 1968-1972".

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours 2

Luís Cília
La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours 2
Moshé-Naïm MN - 10 005
1969
LP

1. Há-de Haver (José Saramago / Luís Cília)
2. O Menino da Sua Mãe (Fernando Pessoa / Luís Cília)
3. Boda Pagã (Francisco Delgado / Luís Cília)
4. Canção (Fernando Morgado / Luís Cília)
5. O Cavador (Guerra Junqueiro / Luís Cília)
6. Pátria (Afonso Duarte / Luís Cília)
7. Orfeu Rebelde (Miguel Torga / Luís Cília)
8. Carta a Ângela (Carlos de Oliveira / Luís Cília)
9. A Estrela (Carlos de Oliveira / Luís Cília)
10. O Viandante (Carlos de Oliveira / Luís Cília)
11. Há Lágrimas nos Teus Olhos (Carlos de Oliveira / Luís Cília)
12. Não Me Peçam Razões (José Saramago / Luís Cília)
13. Margem Esquerda (Urbano Tavares Rodrigues / Luís Cília)
14. Dies Irae (Miguel Torga / Luís Cília)

Luís Cília: voz, guitarra
François Rabbath: contrabaixo, arranjos

Terceiro álbum de Luís Cília e segundo do tríptico "La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours", é também aquele com menos instrumentação dessa série. Constituído unicamente por poesia contemporânea, uma das particularidades deste trabalho é a divulgação da poesia de José Saramago, nome que Luís Cília foi o primeiro a musicar. "Há-de Haver" é logo a faixa de abertura, e marca o tom elegíaco do disco, havendo ainda "Não Me Peçam Razões" do futuro Nobel. "O Cavador" e "Orfeu Rebelde" são dois belos retratos, mas o autor em destaque neste álbum é Carlos de Oliveira, com quatro poemas. Luís Cília foi, com efeito, o grande divulgador de muitos dos nomes mais importantes da poesia portuguesa através da música, chegando mais tarde a dedicar trabalhos inteiros a um só poeta. Com uma obra tão vasta, o que se lamenta é que a única reedição em CD que existe no mercado - uma colectânea desta série - tenha sido editada em França... "Malhas que o Império tece!"

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Contos Velhos, Rumos Novos

José Afonso
Contos Velhos, Rumos Novos
Orfeu STAT 004
1969
LP

1. Bailia (Airas Nunes / José Afonso)
2. Oh! Que Calma Vai Caindo (Popular Malpica, Beira Baixa)
3. São Macaio (Popular Faial, Açores)
4. Qualquer Dia (Fernando Miguel Bernardes / José Afonso)
5. Vai, Maria Vai (José Afonso)
6. Deus Te Salve, Rosa (Popular Trás-os-Montes)
7. Lá Vai Jeremias (Popular Malpica, Beira Baixa)
8. No Vale de Fuenteovejuna (Lope de Vega - versão moderna: Natália Correia / José Afonso)
9. Era de Noite e Levaram (Luís Andrade / José Afonso)
10. Já o Tempo se Habitua (José Afonso)
11. A Cidade (José Carlos Ary dos Santos / José Afonso)

José Afonso: voz
Rui Pato: guitarra, marimbas, harmónica
Luís Filipe Sousa Colaço: 2ª guitarra
José Fortunato: cavaquinho
Adácio Pestana: trompa
Teresa Paula Brito: voz

Segundo álbum de José Afonso para o selo Orfeu, de Arnaldo Trindade, aqui se reunem alguns dos lugares-chave da obra do músico. Por um lado, as canções tradicionais (quatro, neste caso, todas bem conhecidas e cujas leituras viriam a ser determinantes na geração de grupos de recolha que surgiria uma década depois); por outro, a adaptação de poemas medievais ou renascentistas ("Bailia" e "No Vale de Fuenteovejuna", embora Camões acabasse por ser o autor preferido de José Afonso e de quem musicaria três poemas); por outro ainda, a composição sobre poemas de autores contemporâneos ("Qualquer Dia", "Era de Noite e Levaram", com o seu texto de dénúncia directa, e o elegíaco "A Cidade") e, por último e o mais comum na sua carreira, os temas com letra e música de sua autoria ("Vai, Maria Vai", em dueto vocal com Teresa Paula Brito, e "Já o Tempo Se Habitua"). Se não bastasse este leque de excelentes composições, há ainda o omnipresente (nesta fase) Rui Pato, o guitarrista Luís Filipe Colaço (ex-Álamos, grupo pop rock de Coimbra) e Adácio Pestana (irmão mais novo de Duarte Pestana - autor da música "Angola É Nossa" - e tragicamente desaparecido na sequência de um acidente de automóvel em 2004). Que o tempo nunca se habitue a deixar passar ao lado obras deste calibre!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Jess & James

Jess & James
Jess & James
Palette MPB S-3290
1969
LP

1. Straight Man (Scott Bradford - Wando Lam)
2. Mrs. Davis (Wando Lam - Scott Bradford)
3. Perdition Again (Wando Lam - Scott Bradford)
4. Lip Service (Wando Lam - Scott Bradford)
5. A Passing Car (Scott Bradford / Wando Lam - Scott Bradford)
6. She's a Woman (John Lennon - Paul McCartney)
7. Skathing (Stu Martin - Wando Lam - Scott Bradford)
8. James Stuff (Wando Lam - Tony Lam)

Tony Lam: voz, guitarra baixo
Wando Lam: voz, guitarra
Scott Bradford: teclas
Stu Martin: bateria

Liderados pelos irmãos Tony e Wando Lam (nascidos no Porto, mas emigrantes na Bélgica e na Holanda desde a adolescência), os Jess & James são um dos maiores casos de sucesso de portugueses no estrangeiro. Com efeito, desde o início do grupo, em 1967, que temas como "Nothing But Love", "The End of Me", "Move" ou "Something for Nothing" fazem uma mistura arrasadora de soul e pop a que era impossível resistir, conquistando várias pistas de dança europeias. Chegados a 1969 com dois LP's já na carteira (além da experiência como Free Pop Electronic Concept), este terceiro álbum, homónimo, traz sete novos temas originais e uma versão dos Beatles ("She's a Woman", de 1964). A sonoridade geral está já mais madura, sendo que o psicadelismo que surgia nos dois primeiros LP's está aqui bem diluído e transformado num cocktail pesado que roça por vezes o funk. Como curiosidade, refira-se que o grupo venceu o Prémio da Crítica no II Festival Internacional da Canção de Barcelona, em Outubro de 1969, com o tema "A Passing Car", deste LP - mas representando a Inglaterra!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Epopeia

Filarmónica Fraude
Epopeia
Philips 841 407 PY
1969
LP

1. Epopeia (1ª Profecia) (António Pinho / Luís Linhares)
2. Na Ilha Virgem (António Pinho / Luís Linhares - sobre motivo popular)
3. Digo-Dai (António Avelar Pinho / Luís Linhares - sobre motivo popular)
4. Só Marinheiros e Escravos Se Afundam com a Nau (António Pinho / Luís Linhares)
5. Homenagem Póstuma (António Pinho / Luís Linhares - sobre motivo popular)
6. Por Vós (Desgostoso, Carrancudo e Magro) (António Pinho / Luís Linhares)
7. Centenário (António Pinho / Luís Linhares)
8. Sebastião Morreu! (António Pinho / Luís Linhares)
9. Epílogo (António Pinho / Luís Linhares)
10. Os Bem-Aventurados (António Pinho / Luís Linhares)
11. «25» (António Pinho / Luís Linhares)
12. 2.ª Profecia (Bandarra / Luís Linhares)

João José Brito: voz
António Antunes da Silva: voz, guitarra eléctrica, guitarra acústica
José João Parracho: voz, guitarra baixo
Luís Linhares: voz, órgão, piano
Júlio Patrocínio: voz, bateria
António Pinho: voz
Carlos Barata: voz
Zé da Cadela: bateria
Luís Moutinho: bateria
Jorge Machado: arranjos

[ficha técnica recolhida junto do grupo, uma vez que o LP não a contém]

Com produção de João Martins e de Luiz Villas-Boas e uma fabulosa capa de Lídia Martinez, "Epopeia" chegou ao mercado numa fase de mudanças na banda, em finais de 1969. Depois de dois brilhantes EP's, em que se atreveram a verter num cruzamento de folk e de pop rock o mal-estar português de uma forma inigualável, a possibilidade de gravar um álbum era algo que teriam de agarrar com unhas e dentes. De facto, este é o 3º LP de pop rock editado na década de 1960 em Portugal por um grupo nacional (depois das estreias do Conjunto João Paulo, em 1966, e dos Pop Five Music Incorporated, também de 1969), sendo que a discografia do género era feita maioritariamente em EP. Pegando na temática do Portugal das Descobertas e fazendo paralelismos mais ou menos subtis com o Portugal seu contemporâneo, composições como "Na Ilha Virgem", "Por Vós (Desgostoso, Carrancudo e Magro)" ou "Os Bem-Aventurados" mostravam que ser moderno podia (e devia) passar pela fusão das tradições. As letras de António Pinho (mais tarde na Banda do Casaco) eram já uma das pedras de toque do conjunto, sendo que apenas "2.ª Profecia" (com um começo a lembrar o melhor dark folk) não contava com texto seu mas sim do Bandarra, o "nosso" Nostradamus.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Retratos

Patxi Andión
Retratos
Movieplay S - 26.024
1969
LP

1. Rogelio (Patxi Andión)
2. La Zagala (Patxi Andión)
3. La Jacinta (Patxi Andión)
4. Canción Vieja (Patxi Andión)
5. Los Decorados (Patxi Andión)
6. El Pipo (Nana a un Perro Que Murió Solo) (Patxi Andión)
7. Nana a una Vieja Viuda del Mar (Patxi Andión)
8. Esteban (Patxi Andión)
9. El Vagabundo (Patxi Andión)
10. A Quien Corresponda (Patxi Andión)

Patxi Andión: voz
Carlos Montero: arranjos, direcção de orquestra

Pois é, as terras do fim do mundo podem ser onde um homem quiser. E Patxi Andión, quando se estreou no formato LP em 1969 com este "Retratos", foi contra vários valores instituídos e considerados intocáveis da sociedade espanhola de então. "Rogelio", "La Jacinta" ou "Nana a una Vieja Viuda del Mar" foram algumas das canções que conheceram mais divulgação e que mostravam um novo cantautor, com voz bem própria, o que os trabalhos seguintes confirmariam.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Carlos Portugal [2]

Carlos Portugal
Carlos Portugal [2]
Alvorada / Rádio Triunfo LP-S-50-58
1969
LP

1. Portugal Também Se Dança (Carlos Portugal)
2. Mensagem de Lisboa (Carlos Portugal)
3. A Rima do Lavrador (Carlos Portugal)
4. Canção à Póvoa (Carlos Portugal)
5. Lei de Rei (Carlos Portugal)
6. Passam Moças (Carlos Portugal)
7. O Visconde d'Aire (Carlos Portugal)
8. Mandei Dizer-te (Carlos Portugal)
9. Ó Jardineiro (Carlos Portugal)
10. Na Estrada P'rá Cidade (Carlos Portugal)
11. Canção de Ramiro (Carlos Portugal)
12. Minha Infância (Carlos Portugal)

Carlos Portugal: voz, guitarra
Pedro Osório: arranjos, direcção de orquestra
Sílvio Pleno: arranjos, direcção de orquestra

Depois de alguns EP's e de um curioso e prometedor 1º LP em 1968 - facto invulgar para a época - o músico viseense Carlos Portugal bisa no ano seguinte com este segundo e último LP. A sua obra não termina aqui, no entanto, continuando até inícios dos anos 70 em trabalhos que ora se aproximam dos cantautores ora do pop rock. Carlos Portugal é, sem dúvida, um nome a redescobrir.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Tudella Canta Música de Pedro Jordão

João Maria Tudella
Tudella Canta Música de Pedro Jordão
Decca SLPDX 515
1969
LP

1. Fuzilaram um Homem num País Distante (José Gomes Ferreira / Pedro Jordão)
2. Mãos de Luar (Maria do Carmo / Pedro Jordão)
3. Quero um Cavalo de Várias Cores (Reinaldo Ferreira / Pedro Jordão)
4. No Mar Sou Teu Amigo (Joaquim Pedro Gonçalves / Pedro Jordão)
5. Trilogia:
a) Irmão (Jorge Massada / Pedro Jordão)
b) A Sala (Ema Vicente / Pedro Jordão)
c) A História do Boi Cansado (Miguel Apolinário / Pedro Jordão)
6. Flor de Lapela (Reinaldo Ferreira / Pedro Jordão)
7. Liberdade (Manuel Alegre / Pedro Jordão)
8. Os Ratos (Manuel Alegre / Pedro Jordão)
9. Quando Ela Passa (Fernando Pessoa / Pedro Jordão)
10. Eu, Pássaro (João Fezas Vital / Pedro Jordão)
11. Pintor Louco (Rui Malhoa / Pedro Jordão)
12. Não a Despertem (Major Gonçalves Pedroso / Pedro Jordão)
13. A Tarde Vai Longe (Joaquim Pedro Gonçalves / Pedro Jordão)
14. Um Sossego Mais Largo (Reinaldo Ferreira / Pedro Jordão)

João Maria Tudella: voz
Jorge Machado: direcção de orquestra

É um facto que a história musical portuguesa não produziu muitos LP's de originais até 1974. No entanto, este "Tudella Canta Música de Pedro Jordão" é um exemplo maior da qualidade das excepções, já que mostra toda a força interpretativa do cantor ao serviço de um punhado de belos poemas, servido por uma eficaz orquestra dirigida por Jorge Machado. Nacional-cançonetismo? A sério? Grave, grave, é este disco não existir ainda em CD...

Início?

Ou de como há muitas maneiras de começar um blog. Hoje, começo por aqui - i.e, 1969. Bem-vindos!